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domingo, 26 de janeiro de 2014

Desafios para a construção da Universidade na Amazônia



Desafios para a construção da Universidade na Amazônia
Gilmar Pereira da Silva
Doutor em Educação
Doriedson Rodrigues
Doutor em Educação

                A partir de 1986, a Universidade Federal do Pará intensificou o processo de interiorização de suas ações acadêmico-científicas, com a criação de seus campi regionais sediados em diversos municípios paraenses, dentre os quais o Campus de Cametá. Tratou-se de uma atitude ousada da Universidade, exercendo sua autonomia acadêmico-administrativa, haja vista que essa iniciativa não fazia parte das ações do governo federal naquele momento.
                O processo em questão resultou do entendimento de que o desenvolvimento regional pressupunha a formação de sujeitos que pudessem intervir sócio-politicamente em suas localidades, a partir de uma articulação de suas realidades com os conhecimentos resultantes do ensino superior.
                E passados 25 anos de sua interiorização, constata-se que a Universidade Federal do Pará tomou uma atitude correta em sua trajetória histórica, possibilitando que inúmeros filhos de trabalhadores tivessem acesso ao ensino superior, de modo a contribuir com os processos de desenvolvimento da região, causando inicialmente impactos significativos na educação básica, que era o fulcro central da origem da interiorização.
                No momento atual, vários outros impactos são possíveis de serem observados, como a articulação dos cursos de licenciatura com novos cursos de bacharelado, contribuindo assim para a atuação, para além da educação, nos arranjos produtivos locais e regionais, seja através de conhecimentos sistemáticos do cotidiano da academia, bem como através da pesquisa e da extensão.
                Como resultado dessa nova dinâmica é que nos últimos anos o Campus de Cametá vem se articulando com o campus de Abaetetuba, com o apoio da administração superior de nossa Universidade Federal do Pará, parlamentares e sociedade civil organizada, para constituirmos mais uma universidade no Estado, a Universidade Federal da Amazônia Tocantina – UFAT.
                Trata-se da compreensão de que para que se intensifique o desenvolvimento regional pleiteado quando do início da interiorização da UFPA faz-se necessário, no contexto atual, um maior contingente de doutores e mestres na região, bem como maior número de vagas e cursos, mesmo face ao volume de avanços que a Universidade Federal do Pará vem alcançando nos últimos anos.
                Em Cametá, por exemplo, o Campus da UFPA, que funcionava em uma escola doada pela Prefeitura desse município na década de oitenta, aumentou sua área construída, a partir do REUNI, possibilitando novos prédios, ampla biblioteca, auditório, laboratórios e novas salas de aula, por exemplo, além de termos ampliado o número de docentes, saindo-se de um quadro de 08 professores efetivos para mais de 61 educadores, entre mestres e doutores, de modo que ter uma massa crítica de mais de sessenta mestres e doutores numa região como a nossa já se configura elemento significativo de mudanças sociais, culturais, políticas e também econômicas.
                Não menos importante encontra-se o fato de novos cursos terem sido criados, como Agronomia (demanda antiga da região), Sistema de Informação, Língua Inglesa, História, Matemática, Ciências, ao lado dos cursos que deram origem ao Campus, Pedagogia e Letras Língua Portuguesa, bem como vários cursos de pós-graduação lato sensu, com docentes do próprio campus, resultando em pesquisas sobre a região que a têm impactado social e politicamente. Ao lado desses cursos, também se destaca a atuação do campus em assumir o processo de formação continuada de professores da Educação Básica, o PARFOR, como elemento importante para o desenvolvimento da região.
                Essa configuração vem possibilitando também ao campus de Cametá ampliar o seu número de vagas. Em 2011, por exemplo, foram ofertadas 13 novas turmas no processo seletivo da instituição, em um total de 532 novos acadêmicos que em 2012 adentraram a Universidade Federal do Pará por meio de seu Campus Universitário do Tocantins, somando-se aos mais de 180 alunos que ingressaram nos cursos ofertados pelo campus por meio de processo seletivo especial realizado para os municípios de Oeiras do Pará, Limoeiro do Ajuru, Baião e Tomé-Açu.
                Para além desses elementos, há também de se considerar que o Campus de Cametá vinha promovendo discussões a fim de se criar um Programa de Pós-Graduação stricto sensu que atendesse a expectativa de formação já há muito presente na região para além dos cursos de graduação e especialização, de modo a intensificar o fomento de pesquisadores que atuem cada vez mais junto à realidade local. E neste dezembro de 2013, obtivemos a notícia de que a CAPES aprovara o mestrado em Educação e Cultura do Campus Universitário do Tocantins/Cametá, com sua primeira turma iniciando em 2014. Uma vitória para a região, para os egressos, para a Amazônia.
                Também é preciso levar em consideração que nos últimos anos o Campus de Cametá assumiu um compromisso de se interiorizar ainda mais, levando cursos presenciais para os municípios de Mocajuba, Baião, Limoeiro do Ajuru, Oeiras do Pará, e agora Tomé-Açu, com o apoio da Administração Superior, por se entender que o processo de interiorização da Universidade Federal do Pará deve continuar sua expansão, o que vem sendo denominado hoje pela universidade como a “interiorização da interiorização”.
                Em que pesem esses avanços, o contexto histórico atual vem exigindo que os campi se articulem em torno de um projeto maior para a região, impactando-lhe cada vez mais positivamente, com maiores recursos, mais docentes, novos cursos e um maior número de vagas, para o que a criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina, a UFAT, torna-se uma realidade a ser cada vez mais perseguida, muito já contribuindo para isso as ações aqui descritas.
                Trata-se, então, de um novo processo histórico nos rumos da Universidade Federal do Pará como instituição voltada para o desenvolvimento regional, criando-se as condições para o surgimento de uma nova Universidade, como se procedeu para com a criação da UFOPA, em Santarém, e a UNIFESSPA, em Marabá. Hiperbolicamente diríamos que a interiorização da UFPA vai se interiorizando cada vez mais, já constando no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) da UFPA, aprovado em 2011, a criação da Universidade Federal da Amazônia Tocantina – UFAT, além de inúmeras audiências que estão sendo realizadas nos municípios da região, discutindo-se a UFAT, seus impactos na região, o modelo de universidade que a região necessita.

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