O Espaço de diálogo sobre o Ensino Médio Público

domingo, 27 de outubro de 2013

CARTA ABERTA AO SENADO FEDERAL EM REPÚDIO À DECLARAÇÃO DO SR. CLAÚDIO DE MOURA CASTRO



Nós, ativistas do Movimento Nacional dos Direitos Humanos e diversas entidades, vimos repudiar veementemente o pronunciamento machista e preconceituoso do Sr. Cláudio de Moura Castro, economista, colunista de uma revista, professor especialista em educação e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, em audiência pública realizada no dia 21 de outubro de 2013, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, em Brasília/DF.

A audiência pública supracitada tinha como pauta principal o novo projeto do Plano Nacional Educação (PNE) e, nesta ocasião, o Sr. Cláudio defendeu e sugeriu que o Plano Nacional de Educação (PNE) assegurasse “a criação de um bônus para as ‘caboclinhas’ de Pernambuco e do Ceará que conseguirem se casar com engenheiros estrangeiros, porque aí eles ficam e aumenta o capital humano no Brasil; aumenta a nossa oferta de engenheiros”.

Ao ouvirmos e lermos esta declaração, cujas palavras parecem ser articuladas sob o fio do preconceito e do desrespeito aos direitos humanos, ficamos estarrecidos e indignados com tamanho preconceito e desvalorização do Estado público e democrático de direito, tão tardiamente assegurado por marcos políticos e legais no Brasil.

A Constituição Federal de 1988 afirma, no Art. 5º, que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade". Mais especificamente, os incisos I e IV afirmam:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
As marcas da desigualdade no Brasil é oriunda de um processo de colonização que dizimou indígenas, escravizou e comercializou negros, dividiu o país em regiões ricas e pobres, atrasadas e modernas e, sobretudo, construiu práticas histórica – que viceja até hoje – de clientelismos, colonialismos e extermínios dos indígenas, negros, nordestinos e pobres. Assim, as conquista de referenciais democráticas convive, anacronicamente, com discursos e projetos conservadores, preconceituosos e, por isso, autoritários.
Somos homens e mulheres negros, indígenas e caboclos. Compartilhamos do sangue do suor dos povos que resistiram e resistem bravamente à escravidão, à miséria e ao preconceito. Além disso, somos seres sociais, sujeitos históricos, homens e mulheres com desejos, sonhos e capacidade de construir a história, quer vivamos nas regiões norte, nordeste, centro-oeste, sul e sudeste do país. SOMOS SUJEITOS DE DIREITOS!!!
A construção sócio-histórica de cidadania, consolidada neste país, é traduzida por vários documentos e, dentre eles, as Diretrizes Nacionais para Educação em Direitos Humanos, a qual afirma a “educação em direitos humanos, um dos eixos fundamentais do direito à educação, que se refere ao uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas” (art. 2º da resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, do MEC).
            Enquanto defensores dos direitos humanos, a nossa luta é, portanto, pelo amplo reconhecimento da condição de sujeito e de igualdade a todos, recusando qualquer forma de preconceito e discriminação, principalmente as diversas falas públicas que se utilizam de argumentos preconceituosos, coisificam e violam a integridade humana de homens e mulheres – sendo esta última historicamente vítimas de violências e preconceitos no mundo e no Brasil.
Por isso, solicitamos ao Senado Federal, instituição de extrema relevância para o cumprimento dos direitos e deveres assegurados pelo estado Democrático de Direito, que leia no plenário esta carta de repúdio.
A educação, enquanto ato histórico e humanos, tem que ser construída sob valores e princípios democráticos, de justiça e criticidade. Qualquer posicionamento que viola a dignidade humana, a igualdade de direitos e o reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades não pode ser incorporado a práticas educativas e cidadãs.
Na luta por um mundo mais justo e igual.

Brasil, 26 de outubro de 2013

Movimento Nacional de Direitos Humanos- Regional São Paulo
Instituto Paulo Freire
Cedeca Paulo Freire

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